Adesão Efetiva em Dentina

A adesão efetiva em dentina é de particular importância clínica para a restauração com peças indiretas (inlays/onlays, laminados e coroas), visto que a resistência final do complexo dente-restauração é altamente dependente dos procedimentos adesivos. Para obtermos uma adesão mais confiável e duradoura, devemos sempre selar imediatamente a dentina após o preparo dental e antes da moldagem/escaneamento.

Este procedimento é chamado de selamento dentinário imediato (conhecido pela sigla “IDS: do inglês “immediate dentin sealing“). O selamento imediato da dentina proporciona maiores valores de resistência de união, maior estabilidade adesiva, grande diminuição da sensibilidade pós-operatória nas situações clínicas em que o dente é vital e processo de cimentação mais simples.

Esta técnica foi idealizada para uso com sistema adesivo com carga convencional de 2 frascos (especificamente, com o Optibond FL, Kerr®), mas podemos realizar o selamento dentinário imediato com diversos sistemas e técnicas adesivas, desde que respeitados os passos corretos para cada um deles. Considerando que os adesivos universais estão entre os mais utilizados na clínica diária devido sua grande versatilidade, colocarei aqui o passo a passo do selamento dentinário imediato com o uso desde sistema.

Entretanto, é importante deixar claro que tal procedimento é realizado com maior eficiência ao se lançar mão de adesivos de 2 frascos (sejam eles de condicionamento ácido total ou autocondicionantes). Vamos ao passo a passo clínico:

Figura 1 – Aplicação ativa de adesivo universal sobre a dentina seca

1. Secar a estrutura dentária já limpa aplicar o sistema adesivo com pincel descartável (microbrush) somente em dentina, friccionando-o vigorosamente por pelo menos 30 segundos (Fig. 1). O clínico pode aumentar o tempo de aplicação do adesivo sob constante fricção com o microbrush e aplicar mais de uma camada, a fim de garantir a melhor ação possível do adesivo. A aplicação de múltiplas camadas é aconselhável!

Figura 2 – Aspecto após remoção de excessos e evaporação do solvente por, ao menos, 10 segundos

2. Remover os excessos e evaporar o solvente com jato de ar a uma distância em torno de 10cm. A intenção não é afinar a camada adesiva, e o uso de jatos fortes de ar podem incorporar inadvertidamente bolhas de ar na película adesiva. Este passo deve durar, pelo menos, 10 segundos. Entretanto, prolongar esta etapa é aconselhável para sistemas universais (Fig. 2);

Figura 3 – Fotoativação por 20 segundos

3. Fotoativar pelo tempo indicado pelo fabricante. Recomenda-se pelo menos 20 segundos de fotoativação, para garantir adequada conversão (Fig. 3);

Figura 4 – Aplicação de uma fina camada de resina fluida. Neste caso, foi utilizado um microbrush para sua aplicação (o que não é obrigatório)

4. Aplicar uma fina camada de resina fluida (Fig. 4);

Figura 5 – Fotoativação por 20 segundos

5. Fotoativar por pelo menos 20 segundos (Fig 5);

Preferencialmente, utilize gel hidrossolúvel para bloquear o contato da camada mais superficial com o oxigênio e fotoative novamente. Em seguida, esfregue uma bolinha de algodão com álcool 70% sobre o preparo e realize leve polimento. Caso tenha ocorrido extravasamento do adesivo para áreas de esmalte, este deve ser removido com ponta diamantada. A negligência nestas últimas etapas pode prejudicar a fase da moldagem e dificultar a remoção da peça provisória. Ao utilizar o selamento dentinário imediato, não utilize poliéter como material de moldagem.

Na consulta de cimentação, idealmente deve-se fazer jateamento do preparo com óxido de alumínio para “reativar” a camada de resina fluida. Na ausência deste periférico, asperize sutilmente a camada de resina fluida com ponta diamantada em baixa rotação (ou asperize gentilmente com ponta ultrassônica diamantada).

Este passo deve ser feito com muito cuidado, pois o desgaste exagerado pode remover a camada de resina fluida e adesivo, além de aumentar demasiadamente a linha de cimentação. Em seguida, o remanescente consistirá apenas de esmalte e resina. Com isso, trate o preparo como se fosse somente um substrato, aplicando ácido fosfórico por 30 segundos, lavando e secando bem. Se o selamento tiver sido feito há mais de 1 mês, aplique uma camada de silano sobre a resina fluida.

Os passos de cimentação dependerão da escolha do sistema de cimento resinoso. Caso a opção seja por um sistema dual convencional (que necessite de aplicação de adesivo no substrato), aplique uma camada fina do adesivo por todo o preparo e evapore bem o solvente. Não polimerize o adesivo separadamente! Este será polimerizado após o assentamento da peça com o cimento resinoso!

Figura 6 – Resultado final

Alvaro Augusto Junqueira Júnior

  • Especialista, Mestre e Doutor em Dentística pela FORP-USP
  • Dentista na MC Première Clínica Integrada
  • CRO-SP: 105.542
  • E-mail: [email protected]
  • Instagram: @aaajunqueira

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